domingo, 26 de setembro de 2010

Carta a comunidade da UFSCar campus Sorocaba

Caros colegas,

Por mais que grande parte das propagandas e promoções políticas seja uma afronta aos eleitores, não podemos desacreditar na discussão política. Afirmar e crer “Que política não se discute” é talvez um retrocesso nas transformações humanas, pois se os cidadãos, sejam eles intelectuais, acadêmicos, sindicalistas, analfabetos, partidários, alienados, etc., não fizerem isto, estarão colocando a responsabilidade disso no outro. E esse outro pode ser um político corrupto, um ditador, um oportunista travestido de humorista, um sarrista da ignorância de um povo ou até um político fundamentalista que aprova leis por suas crenças e moral pessoal – e olha que a constituição diz que estamos num estado laico.

Assim, gostaria de comentar sobre dois candidatos que concorrerão na eleição que está por vir e que, de alguma forma, estão ligados à história da comunidade a qual envio essa carta – alunos, docentes e TAs da UFSCar campus Sorocaba.

Primeiramente, Iara Bernardi, candidata à deputada federal: Desde 1999 Iara esteve ligada a luta pela educação, articulando ações junto ao Ministério. De 2000 a 2005, Iara buscou encontrar o local adequado para a implantação de uma universidade e sensibilizar os prefeitos da região. Em agosto de 2005, um campus da UFSCar foi instalado em Sorocaba.

Cabe mencionar que o contexto de expansão das universidades federais na gestão do presidente Lula não era suficiente para vinda da UFSCar à Sorocaba. Foi necessário um conjunto de ações pra que fosse viabilizada a construção e implantação da universidade. Em 2007, a UFSCar recebeu um montante de 1,5 milhões de reais de emenda parlamentar da ex-deputada Iara.

No mesmo ano, Iara foi convidada pelo Ministro da Educação, Fernando Haddad, para assumir a representação do MEC no Estado de São Paulo. Assumindo seu papel como articuladora das ações do MEC, Iara coordenou o PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação. Coordenou, ainda, as etapas regionais e estaduais da Conferência Nacional de Educação, que culminou na Conferência Nacional.

A instalação dos Institutos Federais de Educação (antigos CEFETs) nas cidades de Salto, São Roque, Boituva e Itapetininga foi outra grande conquista de Iara na área da educação para a região de Sorocaba. Os Institutos oferecem educação superior, básica e profissional e licenciaturas para a formação de professores, devendo se tornar pólos de desenvolvimento em cada região onde se instalam.

O outro candidato, este à deputado estadual, é Hamilton Pereira. Foi deputado estadual em quarto mandato e mais uma vez candidato à reeleição. Sorocabano, tem 56 anos e quatro filhos. Sindicalista, metalúrgico, em 2002 foi o deputado estadual do PT mais votado do Brasil e em 2006 foi classificado como o mais atuante do estado de São Paulo pela ONG "Voto Consciente".

Desde que assumiu seu primeiro mandato na Assembléia Legislativa de São Paulo, a marca de seu trabalho tem sido a produtividade. Já conseguiu ter transformadas em Leis 37 proposituras de sua autoria. Hamilton já foi Primeiro Secretário da Assembléia, presidente da Comissão de Relações do Trabalho por três vezes e hoje é presidente do Conselho de Ética.

A qualidade dos Projetos que apresenta, tem garantido a Hamilton prestígio e força para articular a transformação dos mesmos em Leis Estaduais. Além disso, ele também conta com sua capacidade de diálogo, que lhe tem garantido bom trânsito entre os 94 deputados de 15 partidos diferentes que compõem a Assembléia Legislativa.

Quando o Diretório Acadêmico da UFSCar campus Sorocaba – órgão de representação estudantil, junto às associações de moradores dos bairros do Itinga, Green Valley e Jardim Tatiana fizeram a paralisação na rodovia João Leme dos Santos – SP 264, pela duplicação sem praças de pedágio, Hamilton foi o único deputado a apoiar a reivindicação popular.

Temos a responsabilidade e o compromisso de eleger os candidatos que, de fato, contribuíram e que podem realizar alguma transformação na sociedade em que vivemos, estudamos ou trabalhamos. Ou então, estaremos suscetíveis apenas a projetos de lei que visam “dar nome” a coisas e lugares, como quando, sem qualquer consulta ou opinião popular, um dado político, certamente movido por interesses pessoais, quis dar um nome ao nosso campus. O que queremos? E o que fazemos?

Fábio Ortolano foi presidente do Diretório Acadêmico na gestão 2008/2010 e representante discente junto ao CONCAM de 2008 a 2010.

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Breve Biografia de Iara Bernardi

Iara Bernardi nasceu em Sorocaba em 02 de junho de 1952. É filha de pais gaúchos, que vieram na década de 40 para Sorocaba. Sua mãe, dona Lina, é professora e seu pai, Antônio Bernardi, comerciante. Iara morou quase a vida toda no Jardim Simus, zona oeste da cidade, numa chácara.

Como o bairro era zona rural, a escola em que ela estudou os primeiros anos de primário era também uma escola rural. Estudou depois na escola Getúlio Vargas e, seguindo os passos de sua mãe, formou-se professora normalista, indo em seguida estudar em Itu, onde se formou em Ciências Físicas e Biológicas, especializando-se em Genética Humana e Oceanografia Biológica em busca de evolução e preocupada com o meio ambiente, atualmente faz mestrado na UFSCar em Diversidade Biológica e Conservação.

Em 74, Iara inicia sua carreira no magistério, lecionando em várias cidades da região. A década de 70 trouxe o regime militar. Iara inicia sua trajetória política justamente nessa época, no sindicato da sua classe, a APEOESP.

Naqueles anos de plena ditadura militar, os governos nomeados não se sensibilizavam com os problemas da categoria dos professores da rede pública, onde as mulheres já eram a maioria. Para conseguir alguns avanços, o sindicato promove as primeiras greves do professorado e do funcionalismo público, em 1978 e 1979. Nessa época, a APEOESP ainda não tinha sido conquistada pela oposição e, nesse contexto, Iara teve papel destacado, ganhando a direção da entidade com uma chapa forte de esquerda. A partir dali a APEOESP passaria a ser um poderoso instrumento de luta pelos direitos dos trabalhadores da educação.

Na mesma época, estruturava-se em Sorocaba o núcleo local do Comitê Brasileiro pela Anistia, que funcionava em sintonia com todo o CBA, por uma anistia ampla, geral e irrestrita, que abrisse caminho para a plena redemocratização do País. Iara se engaja no Comitê e, junto com o grupo, direciona as discussões para a formação de um Partido político, que viria a ser o Partido dos Trabalhadores. Ali Iara se firmaria como liderança. No PT Sorocaba, foi membro da primeira Executiva e a filiada nº 01 do Partido.

O Movimento feminista em Sorocaba começou a ampliar sua presença e atuação quase ao mesmo tempo em que Iara iniciava sua caminhada como líder sindical e partidária.

Todos os movimentos sociais a que ela esteve ligada, a contar de 1978, lutavam por um amplo leque de propostas que convergiam para um objetivo principal: a abertura política e o fim do regime militar.

Quando a anistia já se tornara realidade e os exilados retornaram ao país, começam as discussões para o Encontro da Mulher Sorocabana, com Iara na organização. As três edições do Encontro, nos anos de 1981, 82 e 83, marcariam profundamente sua vida.

Aquelas reuniões impulsionaram, decisivamente, o movimento feminino da cidade. Ali se juntavam mulheres ligadas às associações de moradores de bairros que, sem deixar a luta por melhorias em suas comunidades, naqueles encontros mergulhavam em questões mais amplas.

Nos encontros foram definidas as principais diretrizes norteadoras do movimento: cobrança de maiores esclarecimentos sobre a saúde da mulher, direito a creches e protestos contra agressões dentro e fora de casa. Estavam traçadas as metas que seriam amplamente discutidas e assumidas pelo movimento. Iara formou-se politicamente impulsionando e sendo impulsionada por todos esses acontecimentos e, posteriormente, como vereadora e deputada, representou muito bem aqueles ideais.

Em 1982 Iara se candidata a uma vaga na Câmara Municipal, conquistando a maior votação entre os candidatos do PT naquele ano. Além disso, Iara faz história na política de Sorocaba, pois, pela primeira vez, a população elege duas mulheres: ela e a médica Diva Maria Prestes de Barros Araújo (PMDB), que assumem, de fato, o mandato de vereadoras da cidade, já que Salvadora Lopes, a primeira vereadora eleita em 1947, teve o mandato cassado antes de assumir uma cadeira na Câmara. Naqueles anos 80, em plena ditadura, o preconceito era reinante e dominava a Câmara e a Prefeitura.

Mesmo diante dessa realidade, Iara soube enfrentar o machismo e a discriminação dos colegas vereadores, militando por questões políticas, fundamentando suas idéias e exigindo respeito às suas opiniões.

Naquela época pouco se falava dos direitos da mulher em Sorocaba e, muito menos, em feminismo. Mas depois de vivenciar o preconceito de gênero e de sofrer muita violência verbal de colegas vereadores e de políticos em geral, Iara foi buscar informações e orientações que a colocassem em sintonia com as mudanças que ocorriam no mundo. E lá foi ela, junto com a vereadora Diva Prestes de Barros Araújo, participar de discussões de grupos de mulheres feministas paulistanas, cuja liderança era da atriz e diretora teatral Ruth Escobar. Desses encontros, quase ocultos, nasceria a Iara feminista e líder de mulheres.

Nos primeiros dois mandatos de Iara na Câmara dos Vereadores (1982-1992), muitos dos enfrentamentos em que se envolveu estavam relacionados com as questões do gênero feminino. A luta em favor dos programas voltados para a saúde da mulher e a luta contra a discriminação da mulher em casa ou no ambiente do trabalho devem ser destacadas. Em maio de 1988, Iara denunciou na Câmara que mulheres casadas estavam sendo proibidas de preencher fichas de solicitação de emprego em algumas empresas em virtude de seu estado civil. O gesto da vereadora teve repercussão e foi endossado por vários de seus colegas de legislativo que também se dispuseram a acompanhar a apuração da denúncia.

Paralelamente Iara promove, nos anos de 1981, 82 e 83, três edições do Encontro da Mulher Sorocabana, um marco para a cidade que nunca antes havia discutido a situação da mulher na sociedade contemporânea. Aquelas reuniões impulsionariam, decisivamente, o movimento feminino da cidade. Ali se juntavam mulheres ligadas às associações de moradores de bairros que, sem deixar a luta por melhorias em suas comunidades, naqueles encontros mergulhavam em questões mais amplas.

Nos encontros foram definidas as principais diretrizes norteadoras do movimento: cobrança de maiores esclarecimentos sobre a saúde da mulher, direito a creches e protestos contra agressões dentro e fora de casa. Estavam traçadas as metas que seriam amplamente discutidas e assumidas pelo movimento.

Um desdobramento daquelas reuniões foi a constituição do Conselho Municipal dos Direitos da mulher, em julho de 1987, tendo em sua primeira formação, entre outras mulheres, Elisa Gomes, Eunice Tesoto, Berenice Marucci e Regina Cardoso. O novo colegiado encampou grande parte das propostas surgidas naqueles encontros.

Ao mesmo tempo, Iara seguia seu trabalho na Câmara. Como vereadora, foi a única que sempre participou das manifestações para a regularização de favelas e ocupações na cidade. Participou da formação de vários bairros, como a Vila Barão, Jardim Nova Esperança, Parque das Laranjeiras, Jardim Refúgio, Ipiranga, entre tantos outros. Fez várias reuniões com os moradores do Parque São Bento para conseguir a legalização dos terrenos daquele bairro.

Foi uma das fundadoras e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; fundadora e membro do CIM Mulher, entidade de proteção à mulher vítima de violência; autora da lei que instituiu o "Albergue Municipal para mulheres vítimas de violência", hoje Casa-Abrigo "Valquíria Rocha". A população aprovou o seu trabalho e correspondeu, reelegendo Iara mais duas vezes, somando 14 anos de trabalho na Câmara Municipal. Ao final do seu terceiro mandato de vereadora, em 1996, Iara não disputou a eleição, colocando seu nome à disposição para concorrer à prefeitura de Sorocaba.

Iara disputou uma prévia no PT, concorrendo com o companheiro Carlos Roberto De Gáspari. Iara vence a prévia, tornando-se a candidata a prefeita pelo PT. Era considerada uma candidata "sem chances", mas as urnas mais uma vez mostraram o contrário, dando-lhe 43.659 votos, quase levando-a para o segundo turno. A história se repetiria dois anos depois, quando, também considerada "sem chances", Iara se candidataria a uma vaga na Câmara dos Deputados, mostrando a que veio.

Fundadora e presidente de honra do PLENU - Instituto Plena Cidadania, entidade que tem como objetivos a luta pelos direitos humanos, com ênfase no trabalho de capacitação de mulheres.

Surpreendendo os prognósticos dos matemáticos de plantão, Iara disputa a eleição de 1998 para deputada federal e se elege com 51.218 votos. Em 2002 é reeleita deputada federal com 166.118 votos, sendo a mais votada em toda a região de Sorocaba e a 6ª do PT no Estado de São Paulo.

Em 2007 o Ministro da Educação, Fernando Haddad, a convida para assumir a representação do MEC no Estado de São Paulo.



Fontes:

http://www.iarabernardi1310.com.br/mulher-guerreira/default.aspx

http://www.hamiltonpereira13290.com.br/conheca-hamilton/default.aspx